Sánchez admite que pensou demitir-se e anuncia medidas para combater corrupção

O primeiro-ministro espanhol admitiu, esta quarta-feira, que ponderou demitir-se mas não o fez porque se considera um “político limpo”. Por sua vez, Pedro Sánchez anunciou um pacote de medidas anticorrupção com o objetivo de salvar a legislatura e o PSOE após a crise política provocada por suspeitas de corrupção entre membros do partido. Os parceiros do PSOE declararam que mantêm o apoio ao Governo, desde que a crise “não escale”.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Violeta Santos Moura - Reuters

“Estão a pedir-me para renunciar e convocar eleições. Eu mesmo considerei essas opções. Parecia a solução mais simples para mim e minha família”, disse Sánchez esta quarta-feira no Parlamento espanhol.

“Mas depois de ouvir muitas pessoas, percebi que atirar a toalha ao chão nunca é uma opção”, acrescentou. “Vou continuar porque sou um político limpo que não tinha conhecimento das corrupções. Entendo que alguns cidadãos tenham dúvidas sobre o que eu sabia e o que não sabia. Mas eu não tenho. É por isso que desejo recuperar a confiança dos grupos parlamentares e dissipar a desconfiança dos cidadãos”, declarou.

O Governo de Sánchez e o PSOE estão envoltos numa polémica depois de um juiz do Supremo Tribunal ter ordenado, no mês passado, a prisão preventiva de Santos Cerdán, antigo número três do partido e um dos braços direitos de Sánchez, sob alegações de que recebeu e distribuiu subornos em troca da atribuição de contratos de obras públicas. O caso envolveu também José Luis Ábalos, antigo ministro de Sánchez e ex-dirigente do partido.

Cerdán nega as alegações, que fazem parte de um inquérito mais vasto sobre corrupção que levou a oposição a pedir eleições antecipadas, ameaçando desestabilizar o Governo de Sánchez.
Pacote de medidas anticorrupção
Sánchez rejeitou os apelos para eleições antecipadas e, por sua vez, anunciou uma pacote de medidas anticorrupção, desenhado em pareceria com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com o objetivo de salvar a legislatura e responder à crise política.

A principal medida do plano anticorrupção de Sánchez é a criação de uma Agência de Integridade Pública independente. Para além disso, o pacote promete também impedir que as empresas consideradas culpadas de suborno ganhem contratos de compras governamentais. Sánchez descreveu as 15 medidas que o Governo preparou como um plano estatal anticorrupção para manter uma maioria unida.

“Vamos introduzir aplicações de inteligência artificial na plataforma de supervisão do setor público para identificar padrões anómalos. Fortaleceremos a supervisão dos partidos políticos, com a obrigação de realizar auditorias externas e independentes”, explicou Sánchez no Parlamento.

“Doações a partir de 2.500 euros serão publicadas. Os denunciantes serão mais protegidos. Haverá juízes mais especializados. Duplicaremos o prazo de prescrição e ampliaremos as multas para empresas, com um sistema de exclusão e listas negras”, acrescentou, explicando que a OCDE fará avaliações após 12 e 24 meses.

Por fim, o primeiro-ministro dirigiu-se aos seus aliados: “Obrigado pelo apoio, pelos altos padrões. Vocês têm razão em se indignar. Estamos todos unidos pela vocação de serviço público. Estaremos à altura do desafio”.
Oposição mantém duras críticas, esquerda mantém apoio
O pacote e o discurso de Sánchez foi aplaudido pela sua coligação, incluindo por Yolanda Díaz, uma das vice-presidentes do Governo e dirigente do partido Somar, que nos últimos dias tem tecido duras críticas a Sánchez e ao seu Governo.

Apesar criticar a corrupção sistémica do “bipartidarismo”, Díaz deixou claro que o Sumar mantém o apoio ao Governo.

O porta-voz da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Gabriel Rufián, também deixou claro que o seu partido mantém o apoio ao Executivo, mas com uma exigência: “Isto não pode derrubar um Governo. Mas se isto se agravar, se nos obrigar a escolher entre corruptos profissionais e oprimidos, vamos forçá-los a deixar o povo decidir".

Pelo contrário, a oposição foi mais dura nas palavras, acusando Pedro Sánchez de ser “uma fraude” e apelidando o pacote de “medidas de maquilhagem”. “Não veio para limpar nada, mas sim para sujar tudo”, disse Alberto Núñez Feijóo, líder da oposição.

O líder do PP lançou um ataque veemente à família de Sánchez. "Não são três casos. O primeiro-ministro está aqui pelo seu partido, pelo seu Governo e pela sua família. Mas com quem está a viver? Em que bordéis tem vivido? O senho primeiro-ministro tem sido um participante lucrativo da prostituição”, declarou, recebendo aplausos da sua bancada.

Sánchez parece, assim, ter conseguido recuperar a confiança dos grupos parlamentares que o apoiam. A coligação minoritária liderada pelos socialistas depende de uma aliança pouco rígida de partidos mais pequenos para aprovar a legislação, que até agora rejeitou as propostas de Feijóo de apoiar um voto de desconfiança.
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